Não se pode ser bagaceiro sem antes ter intimidade. Não dá para sair falando como se estivesse no quarto; primeiro deve-se atravessar a sala, o corredor, a cozinha.
Safadeza é merecimento. Os atravessadores não merecem o céu da boca. Os apressados não terão a recompensa divina. Os ansiosos desperdiçarão sua chance de Éden. Sou favorável à lentidão, por isso nunca frequentei praia de nudismo. Tampouco sou adepto de swing ou de qualquer prática que banalize a sensualidade.
Vamos direto à ação não funciona comigo. Conversa que é a ação, desprezá-la indica apatia e conformismo.
Aparecer pelado de repente é broxante. Não queimo etapas: desvestir as palavras para depois se despir, encontrar o sim dentro do não, achar o amor definitivo dentro de um talvez.
Partilhar a memória só é possível para quem reparte a imaginação. Reprimido não é o que não confessa seu passado, é o que não consegue expor suas fantasias.
Entendo a decepção da esposa quando ela volta do banheiro e seu marido já a espera pronto na cama. Direto. Apartado de preliminar e provocações. É pior ainda quando ele nem está excitado.
Tão mais prazeroso quando um tira a roupa do outro e se roça e se enreda de sinais. Não dependemos de música-ambiente, desde que sejamos envolvidos pela respiração de nossa companhia. Respirar perto e acelerado prepara o gemido.
Gosto quando a mulher está sem calcinha, mas que não surja nua de assalto. Como materialização do túnel do tempo. Que seja um pouco difícil para me sentir importante. Quero deixá-la à vontade para criar vontade.
A sugestão feminina é uma dádiva. Aquela que diz de cara que está molhada e úmida veio de um filme pornô. Nem sequer leu o roteiro.
Assanhamento pressupõe a malícia de declarar a intenção não entregando o sentido de bandeja. Admiro as mulheres que insinuam, sempre criativas, não facilitando os lençóis. Testam a inteligência do seu parceiro.
Por exemplo, sei que minha namorada está a fim quando avisa, despretensiosamente (isso é importante!), que foi no salão. Quando indisposta, lamentará que não teve tempo.
“Eu vou me depilar hoje” é a senha. Desnecessário o convite literal. Cresço de alegria. A verdadeira terapeuta sexual é a depiladora, é a que resolve as brigas e as discussões. Eu amo todas as depiladoras do mundo pela alegria noturna que oferecem aos homens. São as madrinhas morais de nossa imoralidade.
Sexo pede respeito. Sem respeito, como iremos perdê-lo no decorrer do enlace?
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Quem sou eu
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
Cuidado com que ela sonha
terça-feira, 23 de novembro de 2010
Só o chifre humaniza
Não tem jeito mesmo. Só um chifre humaniza um macho, repito aqui o velho mantra da coluna. Daqueles bem parafusados pelo destino em nossas testas lisas. Nem que seja apenas como arma de vingança, como reza a lírica do cancioneiro de Carlos Alexandre, o grande do brega.
Um chifre daqueles que nos faz furar o LP com Stephanie Says, do Velvet, ou nos põe como a última das criaturas, ao sentir as batidas dos pingos da tempestade contra a vidraça. Aí entra Tom Waits, que gorjeia This One’s from the Heart, aquela do fundo coração, o filme de Francis Ford Coppola.
Posso tocar mais uma da fita O Fino do Corno, que acabo de gravar aqui no velho cassete das antigas? Então lá vai, lá vai, roda, segura aí, peça logo outra cerveja: Les Amours Perdues, do canalha-do-bem Serge Gainsbourg. Essa é para chorar, como convém a quem deixou rastros de incompetência e de vacilos sentimentais pelo caminho.
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