Quem sou eu

Minha foto
Pessoas como eu não vivem muito,mas vivem como querem.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Meu amor eu pago



Não conheço apaixonado avarento

Não combina, não tem sentido.

Apaixonado não cobra recibo, não solicita nota. Cultiva as férias em horário de trabalho. Empenha o 13º em abril. Compra roupas, presentes, perfumes. Está sempre com uma sacolinha a tiracolo. Patético, aniversaria com meses de antecedência.
O apaixonado é um perdulário inato. Gastará o que não recebeu, enganará o limite de uma conta com a outra, jogará alto blefando ou com mão boa.

Ele não seduz, pede falência.

Quando está amando nenhum homem enriquece. Não há como guardar qualquer coisa procurando agradar uma mulher e a si. Ele esconde o que não tem para poder mais. Sua desinformação é taquicardia. Chama da adega o vinho mais caro, não brigará com garçom pelo erro da conta, será simpático com o arredondamento dos preços. Dá gorjeta para mendigo que guardou sua sombra. Esquece de tirar o extrato bancário por semanas (Desconfie: se algum apaixonado tira o extrato está fingindo).

Cada vez mais me reconheço como um retrógrado. Pode me chamar de qualquer coisa, menos de transgressor, que não combina com a minha barba grisalha aos 36 anos. Sou um vetusto. Velho é pouco para minha intransigência.

A companhia feminina não pagará a conta. Inegociável. Meu pai, meu avô, meu bisavô dentro de mim me empurram a abrir a carteira e deixar de frescura.

Mesmo não tendo sido convidado, sou eu que pago. Machismo, mas machismo com ternura.

É nada sedutor quando um homem estabelece a partilha na calculadora do celular. Cobra inclusive os centavos de sua parceira. É quebrar mais do que os números. É antecipar o divórcio antes do juiz.

Já escuto você se defendendo: estou duro, o que faço? Ora, fica em casa.

Vexame é depender de favor. Melhor faltar crédito no banco do que com ela. Melhor um título protestado do que a própria masculinidade. No amor, a mentira é a primeira verdade. Crio um fiador na hora, solto um cheque voador e depois encontro um jeito dele pousar na plantação de joio.

Em restaurante paulista, no momento de abrir a tabuleta, amigo rascunhou a soma e reivindicou a metade exata para sua namorada. Ela não tinha, ele completou. Ufa!, suspirei, até que ouvi:

- Amanhã você me devolve trinta reais e cinqüenta centavos.

Como transar romanticamente depois das taxas? Como namorar e flertar após recriminação do orçamento?

Quem divide a conta não divide a vida. Algo será cobrado no dia seguinte. A desconfiança tem juros.

Homem descobriu no avanço dos hábitos uma forma de prosperar sua avareza. Estou fora do feminismo de fachada. Um feminismo barbudo.

2 comentários:

  1. Muito bom...rs
    é nóis né,acho que não precisamos de muito. o minimo basta.

    ResponderExcluir
  2. É minha querida,ou nem precisamos dele...vai saber

    ResponderExcluir